“A Lua, quando ela
roda é nova! Crescente ou Meia a Lua!É
Cheia!E quando ela roda, minguante e meia depois é Lua novamente. Mente
quem diz. Que a Lua é velha...Mente quem diiiiiz”
O MPB4 é um grupo vocal e instrumental brasileiro formado
em Niterói, Rio de Janeiro, a partir de 1965. A primeira formação contou com
Miltinho (Milton Lima dos Santos Filho, Campos dos Goytacazes, 18 de outubro de
1943), Magro (Antônio José Waghabi Filho, Itaocara, RJ, 14 de novembro de
1943), Aquiles (Aquiles Rique Reis, Niterói, RJ, 22 de maio de 1948) e Ruy
Faria (Ruy Alexandre Faria, Cambuci, RJ, 31 de julho de 1937).
Em 2004, Ruy Faria sai do quarteto e inicia a formação
atual, com os três integrantes remanescentes e Dalmo Medeiros (Rio de Janeiro,
RJ, 26 de novembro de 1951), ex-integrante do grupo Céu da Boca, convidado para
ficar em seu lugar.
Seus principais gêneros musicais cantados são o samba e o
MPB. Com um repertório marcado por composições de personalidades da Música
Popular Brasileira, como por exemplo Noel Rosa, Milton Nascimento, Chico
Buarque, João Bosco, Paulo César Pinheiro e Aldir Blanc, o grupo apresenta-se
em todo o Brasil, com sucesso de público e de crítica.
A formação do grupo ocorreu em meados de 1964, quando
Aquiles, Magro, Ruy e Miltinho integravam o Centro Popular de Cultura, afiliado
à União Nacional dos Estudantes - UNE. Magro e Miltinho eram estudantes do 3º
ano de Engenharia da Universidade Federal Fluminense - UFF. Ambos tinham
formação musical iniciada desde criança; Miltinho aprendeu violão na
adolescência com o instrumentista Jodacil Damasceno e Magro havia participado
da Sociedade Musical Patápio Silva, além de ter aprendido teoria musical com
Eumir Deodato e Isaac Karabtchevisk.
Ruy tinha acabado de se graduar em Direito pela mesma
universidade e era escriturário da antiga agência do Instituto de Assistência e
Previdência Social - IAPS. Ao mesmo tempo, trabalhava na noite carioca em dois
grupos vocais e tinha sido ''crooner'' em Santo Antônio de Pádua, Rio de
Janeiro. Aquiles era estudante secundarista e participava do coral de uma
escola estadual de Niterói. De família católica, aos 17 anos, resolveu seguir
carreira musical com os outros três integrantes.
Cada um dos integrantes tem um gosto musical
diferenciado, embora eles eram influenciados pelo grupo vocal Os Cariocas.
Miltinho, desde a adolescência, curtia música americana e bossa nova com os
grupos Os Cariocas e Tamba Trio. Aquiles, ao mesmo tempo que tinha preferência
pelo Trio Irakitan, era fã de Elvis Presley.
Em 1965, resolveram ser músicos profissionais e viajam
para São Paulo. Já tinham gravado o compacto simples "Samba Bem", em
1964, pelo selo Elenco. No início, os quatro rapazes passaram por dificuldades,
pois já haviam trilhado carreiras promissoras na época e seus familiares
lamentaram a decisão tomada, embora não tenham enfrentado tamanhas
resistências. Além disso, Aquiles era menor de idade e seu pai desejava
emancipá-lo. Entretanto, tal procedimento era demorado e Ruy Faria tornou-se
seu tutor. A passagem da adolescência para a vida adulta foi abrupta para
Aquiles, segundo o relato de Ruy Faria, pois foi comparada à troca da Coca-Cola
por cerveja.
Lá, entram em contato com artistas recém-lançados na
época, como Chico Buarque, Nara Leão, Sidney Miller, Quarteto em Cy, entre
outros. Desde o início do grupo, tornam-se ativistas de uma nova proposta, a de
uma música brasileira mais popular a todos os que escutarem, de forma que sejam
exaltados o povo brasileiro e seus costumes e, principalmente, a crítica à
situação política do país, imerso na Ditatura Militar. Desta maneira, entraram
em seu repertório as músicas de protesto e sambas.
A parceria com Chico Buarque iniciou-se nesta viagem e
durou aproximadamente dez anos. Durante este período, o MPB4 firmou sua
musicalidade e acompanhava-o em suas apresentações como escudeiro musical, com
boas interpretações das composições de Chico, que já foi considerado como o
"quinto integrante de um quarteto". Um dos maiores destaques nesta
década são as músicas "Quem te viu, quem te vê" e "Roda
Viva", ambas de 1967. Além disso, ganharam espaço também nos famosos
festivais de música, produzidos pela Rede Record.
Em 1966, foi lançado o primeiro LP do grupo, com o título
"MPB4". O destaque vai para as músicas "Lamento",
"Teresa Tristeza". Em 1967, foi lançado outro trabalho, com as
músicas "Quem te viu, quem te vê", "Brincadeira de Angola",
"Cordão da Saideira" e "Gabriela", que ficou em 6º lugar no
III Festival da Música Popular da Rede Record.
Em 1968, lançam mais um LP com o mesmo título do grupo.
Desta vez, a novidade é que cada integrante do grupo tem autonomia sobre uma
faixa, como explicou Magro no programa Ensaio, de 1973. Aquiles cantou a música
"Estrela é Lua Nova" com o coral da Escolal Municipal de Niterói,
onde estudou. Miltinho estréia como compositor na faixa "Vim pra
ficar". Entretanto, apesar das inovações do grupo, o disco não obteve o
reconhecimento esperado.
Ao mesmo tempo, os quatro rapazes enfrentavam
dificuldades financeiras e a marca ferrenha da Censura, apesar de serem
requisitados para apresentações nos palcos e na televisão. Além disso, em 1968,
Chico Buarque vai á Itália para se proteger da Ditadura Militar. Sem seu
parceiro, o grupo perdeu o norte e seus integrantes quase desistiram da
carreira. O MPB4 tinha seus espetáculos encerrados a qualquer tempo pela
Censura. Para dribá-la, os quatro integrantes tinham truques para enganar os
censores, além de negociar as letras das músicas, prática que continuaria na
década seguinte.
A composição vocal do MPB4 até 1968 era: Ruy, 1ª voz;
Magro, 2ª; Miltinho, 3ª; e Aquiles, 4ª voz. A partir de então, quando Aquiles
estudou belcanto (impostação vocal), sua professora discordou da sua posição
nas vozes do quarteto e sugeriu a troca das posições vocais. Então, Miltinho,
ficou com a 4ª voz, e Aquiles, com a 3ª. A troca permanece até hoje e
percebe-se que a sonoridade das vozes ficou harmônica.
Em 1970, o MPB4 lança o LP "Deixa Estar", um
dos marcos principais da carreira do quarteto. O destaque principal é a música
"Amigo é pra essas coisas", de Aldir Blanc e Sílvio da Silva Júnior,
que reflete também o espírito do quarteto em enfrentar dificuldades juntos.
Como Chico Buarque ainda não estava no Brasil, a música foi uma espécie de
"independência" ao parceiro, pois eles não seriam vistos mais como
"Porta-voz do Chico", mas um quarteto vocal com personalidade
própria. Outros destaques são "Candeias", com o primeiro arranjo
vocal de Miltinho, "Boca do Mota", de Milton Nascimento e
"Derramaro o Gai".
Em 1971, foi lançado o LP "De Palavra…Em
Palavra....", que consolida o estilo do trabalho anterior. Destacam-se as
músicas "Cravo e Canela", de Milton Nascimento, "O Cafona",
Marcos Valle, "Eu chego lá", de Ataulfo Alves, "De Palavra…Em
Palavra…", de Miltinho e Magro e "Pois é, pra quê", de Sidney
Miller.
A parceria com Chico Buarque continua firme até meados
desta década. Ele e o quarteto viajaram para alguns países, como Argentina e
Portugal. As marcas da resistência e contestação contra o Governo Militar
continuam firmes nos trabalhos do quarteto, mesmo que eles tenham seus
espetáculos encerrados arbitrariamente e buscado negociações em Brasília. A
questão financeira também seria complicada para o MPB4, como explica Ruy Faria,
em entrevista concedida à jornalista Rosa Minine. Para custear as
apresentações, eles pegavam empréstimos aos bancos e, mesmo assim, corriam o
risco de ter o investimento perdido com um simples ato da Censura. Mesmo
alcançando sucesso de crítica e público, o sossego contra as perseguições viria
a partir de 1979, ano da Lei da Anistia.
O ano de 1972 foi importante para o MPB4, pois é lançado
o LP Cicatrizes, considerado como um dos trabalhos mais promissores. Miltinho
destaca-se como compositor da música-título, com a parceria do jovem Paulo
César Pinheiro. Os arranjos instrumental e vocal de Magro tornam-se mais
ousados, com destaque para as músicas "Agiboré", "San
Vicente", "Partido Alto" de Chico Buarque, "Pesadelo"
e "Agiboré".
Nos anos 1970, participaram de espetáculos históricos,
tais como Construção (1971), Phono 73 (1973), MPB-4 no Safári (1975) e Cobra de
Vidro (1978). Além disso, lançam discos que consolidam a carreira do quarteto
vocal, tais como De Palavra em Palavra, (1971), Cicatrizes (1972), Canto dos
Homens (1976) e Cobra de Vidro (1978), entre outros trabalhos de sucesso de
crítica e público.
Nos anos 1980, lançaram dois trabalhos infantis Flicts
(com o Quarteto em Cy, em 1980) e Adivinha o que é (1981), além da participação
no especial da Globo, Arca de Noé, com a música 'O Pato'. Outro trabalho de
destaque é o disco "Amigo é Pra Essas" Coisas (1989), com a
participação dos filhos dos integrantes do MPB-4 na banda de acompanhamento.
Nos anos 1990, lançaram discos importantes e com grande
aceitação de crítica e de público, como Samba da Minha Terra (1991). Os
primeiros discos do grupo, ao vivo, foram A Arte de Cantar ao Vivo (1995) e
Melhores Momentos (1999). Continuam com a parceria com o grupo Quarteto em Cy
em Bate-Boca (1997) e Somos Todos Iguais (1998).
Em (2000), o quarteto lança dois trabalhos, um deles com
o Quarteto em Cy, Vinícius e a Arte do Encontro. Em (2004), Ruy Faria sai do
grupo e Dalmo Medeiros torna-se integrante do MPB4. Em 2006, é lançado o DVD
"MPB-4 40 Anos", com a participação de Chico Buarque, Milton
Nascimento, Cauby Peixoto, Roberta Sá, entre outros artistas consagrados. Em
2008, o grupo gravou, junto com Toquinho, CD e DVD ao vivo, lançados pela
Biscoito Fino.
Curiosidades
Hoje, Dalmo Medeiros ocupa a posição vocal do Ruy Faria,
que é a 1ª voz;
Um dos jurados da Associação Paulista de Críticos de Arte
(APCA) que participou da votação para eleger o MPB4 como melhor Conjunto Vocal,
em 1972, foi o jornalista Maurício Kubrusly;
Em 2007, Ruy Faria obtém seu registro na Ordem dos
Advogados do Brasil - OAB, após 43 anos de formado. Ele estudou Direito pela
Universidade Federal Fluminense - UFF e abdicou da carreira de advogado para
seguir com o grupo. Hoje, trabalha também como advogado em um conceituado escritório
do Rio de Janeiro;
Mesmo fora das atividades do grupo, seus integrantes
continuam realizando atividades paralelas com grande versatilidade. Magro é um
dos mais requisitados arranjadores instrumentais e vocais de vários artistas e
mantém um bar no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro. Aquiles é escritor,
colunista de dois jornais, e mantém um programa de rádio semanal "O Gogó
de Aquiles". Miltinho é empresário do grupo e de alguns outros artistas,
além de ser convidado como instrumentista para participar de discos com outros
artistas. Dalmo Medeiros envereda pelo lado comunicador, divulgando as
atividades do grupo no site oficial e no Orkut, além de ser produtor de outros
artistas;
Dalmo Medeiros é sobrinho de Cauby Peixoto, que
participou do DVD MPB-4 Quarenta Anos ao Vivo (2007). A música cantada foi
Conceição, um dos maiores sucessos de Cauby;
Dalmo Medeiros participou do grupo 'Céu da Boca' e
trabalhou também no LP de Kleiton e Kledir, na música 'Navega Coração' (1981).
Além disso, ele é graduado em Jornalismo e História;
Os filhos dos integrantes do MPB-4 acompanham seus pais
em excursões e gravações de trabalhos. Marcos Feijão, filho de Miltinho, na
percussão e bateria; Pedro Reis, filho de Aquiles, no bandolim e guitarra; João
Faria, filho de Ruy, no baixo;
Na contracapa do disco "Adivinhe o que é"
(1981), podemos encontrar as fotografias de cada integrante do grupo, quando
eles eram crianças. Existe também uma grande fotografia do quarteto, reunido
com os seus filhos;
Ruy Faria grava seu primeiro trabalho, após seu
desligamento do grupo, com Carlinhos Vergueiro, intitulado "Só Pra
Chatear"(2005);
Em Abril de 2008, Ruy Faria adapta e dirige o espetáculo
musical "Calabar", de Chico Buarque e Rui Guerra, no Teatro Niemeyer,
Niterói;
Em 1982, Aquiles foi eleito presidente do Sindicato dos
Músicos do Rio de Janeiro. Em 1985, ainda no sindicato, organizou a produção e
o lançamento do compacto simples "Nordeste Já", reunindo vários
artistas brasileiros cantando duas músicas. O sucesso foi muito grande e o dinheiro
arrecadado foi para auxiliar cidades mais pobres da Região Nordeste;
Aquiles, com senso agudo de organização e gerência, foi
também empresário do grupo entre 1988 e 1990, um período muito fértil para o
MPB-4. Em 1990, foi montado o espetáculo "Niterói, Niterói", em que o
grupo cantava em uma das barcas de Niterói;
Miltinho é o integrante com maior referência musical.
Possui boa habilidade com o violão e com os arranjos vocais e instrumentais.
Compôs inúmeras músicas em parceria com Alceu Valença, Chico Buarque, Maurício
Tapajós, Paulo César Pinheiro e Magro, entre outros.
Aquiles enveredou para o caminho das letras, ao escrever
as críticas músicais de álbuns recém-lançados de outros artistas para diversos
jornais de grande circulação. Os textos são caracterizados por uma linguagem
técnica profunda, além de grande sensibilidade artística. Além disso, em 2004,
lançou seu livro, o Gogó de Aquiles, pela editora A Girafa;
Magro revelou-se um erudito em música ao apresentar seu
programa Vozes da Música, cujo link encontra-se no sítio ofícial do MPB-4;
Discografia
"Samba bem" (1964) Sarau Compacto duplo
"Samba lamento/São Salvador" (1965) Elenco
Compacto simples
"MPB-4" (1966) Elenco LP
"MPB-4" (1967) Elenco LP
"MPB-4" (1968) Elenco LP
"Deixa estar" (1970) Elenco/Philips LP
"De palavra em palavra" (1971) Elenco/Phonogram
LP
"Cicatrizes" (1972) Phonogram LP/CD
"Antologia do samba" (1974) Phonogram LP/CD
"Palhaços & Reis" (1974) Phonogram LP
"10 anos depois" (1975) Phonogram LP
"Canto dos homens" (1976) Phonogram LP
"Antologia do samba nº 2" (1977) Phonogram LP
"Cobra de vidro" (1978) Phonogram LP
"Bons tempos, hein?!" (1979) PolyGram LP
"Vira virou" (1980) Ariola LP
"Flicts-Ziraldo e Sérgio Ricardo" (1980) LP
"Adivinha o que é?" (1981) Ariola LP/CD
"Tempo tempo" (1981) Ariola LP
"Caminhos livres" (1983) Ariola LP
"4 Coringas" (1984) Barclay LP
"Feitiço carioca-do MPB-4 para Noel Rosa"
(1987) Continental LP/CD
"Ao vivo-do show Amigo é pra essas coisas"
(1989) Som Livre LP/CD
"Sambas da minha terra" (1991) Som Livre CD
"Encontro marcado-MPB-4 canta Milton
Nascimento" (1993) PolyGram CD
"Arte de cantar-MPB-4 ao vivo" (1995) Som Livre
CD
"Bate-boca-Quarteto em Cy e MPB-4" (1997)
PolyGram CD
"Somos todos iguais-Quarteto em Cy e MPB-4"
(1998) PolyGram CD
"Melhores momentos - Ao Vivo" (1999) CID CD
"Vinícius-A arte do encontro. MPB-4 e Quarteto em
Cy" (2000) Som Livre CD
"MPB-4 e a nova música brasileira" (2000) Abril
Music CD
"MPB-4 40 anos ao vivo" (2007) Emi Music CD
"MPB-4 40 anos ao vivo" (2007) Emi Music DVD
"Toquinho e MPB-4 - 40 anos de música" (2008)
Biscoito Fino CD
"Toquinho e MPB-4 - 40 anos de música" (2009)
Biscoito Fino DVD
Discos eventuais
Nordeste já CBS/Coomusa (Sony Music), em 1985
Espetáculo
"O MPB-4 e o Dr. Çobral vão em busca do mal" –
Peça de Millôr Fernandes 1984
Prêmios
1972 - Associação de Paulista de Críticos de Arte (APCA),
na categoria Conjunto Vocal.
“Ela tem um olhar de cobra, que toda hora paralisa o meu. E toda vez que ela olha a brisa beija a flora,
estrelas brilham no breu...”
Beijos e abraços a todos,fiquem com Deus e até o próximo.